domingo, 26 de agosto de 2007
Porto uma Terra para além de mim.
Separado pelo rio Douro das grandes caves do vinho afamado ao qual deu o seu nome, o Porto é a segunda maior cidade de Portugal e existe um certo sentimento de rivalidade em relação a Lisboa. Mas embora as suas antigas raízes tenham sido preservadas com orgulho, um comércio próspero e eficaz transforma-o numa cidade moderna e a sua tradicional importância como centro industrial não diminui o encanto e carácter dos seus bairros antigos ou mesmo do bulício das novas avenidas, ladeadas de centros comerciais ou tranquilos blocos residenciais.
A área em redor da Sé merece ser explorada, com os seus diversos monumentos, como a igreja renascentista de Santa Clara e o apinhado bairro do Barredo, que parece não ter mudado desde tempos medievais. À beira-rio, o bairro da Ribeira torna-se fascinante com as suas ruelas, casas típicas e população pitoresca: foi recentemente restaurado e inclui, agora, bares e restaurantes em voga.Igualmente animado e colorido é o mercado do Bolhão, onde se pode comprar quase tudo, mas bem perto ficam as joalharias e lojas de artigos de pele mais elegantes da Baixa. A cidade do Porto oferece muitas outras atracções, monumentos e museus, assim como um calendário cultural cada vez mais preenchido. Com uma gastronomia bem conhecida e população hospitaleira, também constitui o ponto de partida para a experiência inesquecível de subir o rio.
Ao meu lindo Porto Jag Alskar.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Ilumina-me...
Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p’ra mim.
Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p’ra ti.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa
terça-feira, 29 de maio de 2007
Dia 30, eu faço GREVE!
Dia 30 de Maio os trabalhadores portugueses têm a oportunidade de demonstrar a sua real força fazendo greve. Ao contrário do que é dito pelos empacotadores de opinião (que descobriram na Câmara de Lisboa o fado que os entretinha), a greve geral convoca todos os trabalhadores e não apenas a função pública, convoca os trabalhadores sindicalizados e os não sindicalizados. Fazer greve não é um acto de gazeta ou de fuga ao trabalho, como a direita sempre vendeu. Até a direita sabe que o crescimento económico que a preocupa depende da força do trabalho de outros. Por isso mesmo esforça-se tanto em desmobilizar os trabalhadores, atemorizando-os, ameaçando-os com o despedimento, os processos disciplinares, a perseguição no local de trabalho. Se a greve não fosse um acto de coragem dos trabalhadores, por que razão o governo tentaria saber quem faz greve com uma mega base de dados? E vou fazer greve porque, por muito que o meu patrão seja justo, as alterações legais postas em marcha por este governo tornam os trabalhadores reféns da bondade da entidade patronal. Delegam nesta, poderes discricionários próximos da escravatura, como o despedimento sem justa causa, a total flexibilidade de horários ou a tão propagandeada flexigurança. Tudo isto, e muito mais, é debitado por um governo dito de esquerda. Quanto a ser socialista...Em nenhum momento, desde a maioria cavaquista, um governo tremeu tanto com a ideia de uma greve geral. Nunca um governo procurou usar de todos os meios legais e ilegais para pressionar os trabalhadores a não exercer os seus direitos. Desde a greve dos professores, o Ministério da Educação pressionou as escolas para denunciarem os grevistas, a escalada na ameaça aos direitos e ao exercício das liberdades conquistadas no 25 de Abril tem subido de tom, numa histería pro-fascista mal disfarçada. Porque lutar é um direito, porque nos querem tirar os direitos e porque o meu pai não criou um covarde, no dia 30 faço greve.
A luta é o caminho.
Trotskismo, a propósito!
A teoria da “Revolução Permanente” baseia-se na ideia do “desenvolvimento desigual combinado”. Segundo esta tese, quanto mais atrasado é um país, mais evoluída é a parte mais desenvolvida da sua economia! O raciocínio, aparentemente contra-intuitivo, é de que, se um país se começa a industrializar tarde, irá adoptar as industrias mais modernas existentes na altura, logo, a pouca indústria que terá será altamente desenvolvida. Por exemplo, um país que só recentemente tenha começado a ter ligações telefónicas, terá, em quantidade, poucos telefones, mas esses poucos telefones, em média, serão mais sofisticados que os telefones de um pais que já tenha um sistema telefónico há várias décadas, já que as poucas pessoas que compram telefones irão comprar os telefones que se produzem hoje em dia.
Tal levaria a que, em países semifeudais, a burguesia capitalista, mesmo sem ainda ter derrubado a nobreza, já está em conflito com o proletariado, porque, como a pouca indústria existente é das mais modernas, os conflitos entre patrões e trabalhadores tendem a assumir os mesmos contornos que nos países desenvolvidos (lembremo-nos que Trotsky elaborou esta teoria no principio do século XX, uma época em que, nos países industrializados, a luta entre “proletários” e “burgueses” estava na ordem do dia). Assim, a burguesia local estaria entre dois fogos: por um lado, continua submetida ao Antigo Regime, o que a poderia levar a posições revolucionárias (como a burguesia europeia ocidental dos séculos XVIII e XIX); mas, por outro, já sofre a pressão dos trabalhadores, o que a leva a posições conservadoras (como a burguesia europeia ocidental do século XX). Segundo Trotsky, quanto mais tarde um país conhecesse o seu arranque industrial, mais conservadora seria a sua burguesia local, já que o medo ao proletariado seria mais forte que a sua oposição à nobreza. Além disso, ao contrário da Inglaterra de 1688, da América de 1776 ou da França de 1789, já não existiria uma vasta classe de pequenos e médios artesãos e comerciantes que pudesse fornecer a “mão-de-obra” para uma revolução burguesa (devido à modernização do sector industrial, o único “povo” disponível – nas cidades – são mesmo os operários).
É aqui que entra em cena a “Revolução Permanente”: segundo Trotsky, a burguesia já não é capaz de fazer a sua própria “revolução burguesa”, tendo que ser o proletariado a encarregar-se disso. Mas, sendo o proletariado a fazer a “revolução burguesa”, este não se contentará com o programa “liberal-burguês” (ia abolir a monarquia absoluta, liquidar o feudalismo, etc.), e irá logo começar a pôr em prática o “programa socialista” – assim, a revolução é “permanente”, já que, pela sua própria dinâmica, tenderá a evoluir para posições cada vez mais radicais (no caso russo, a revolução começou por ser democrática e republicana e, em poucos meses, tornou-se socialista – aliás, o PREC português teve uma dinâmica semelhança.
Tal levaria a que, em países semifeudais, a burguesia capitalista, mesmo sem ainda ter derrubado a nobreza, já está em conflito com o proletariado, porque, como a pouca indústria existente é das mais modernas, os conflitos entre patrões e trabalhadores tendem a assumir os mesmos contornos que nos países desenvolvidos (lembremo-nos que Trotsky elaborou esta teoria no principio do século XX, uma época em que, nos países industrializados, a luta entre “proletários” e “burgueses” estava na ordem do dia). Assim, a burguesia local estaria entre dois fogos: por um lado, continua submetida ao Antigo Regime, o que a poderia levar a posições revolucionárias (como a burguesia europeia ocidental dos séculos XVIII e XIX); mas, por outro, já sofre a pressão dos trabalhadores, o que a leva a posições conservadoras (como a burguesia europeia ocidental do século XX). Segundo Trotsky, quanto mais tarde um país conhecesse o seu arranque industrial, mais conservadora seria a sua burguesia local, já que o medo ao proletariado seria mais forte que a sua oposição à nobreza. Além disso, ao contrário da Inglaterra de 1688, da América de 1776 ou da França de 1789, já não existiria uma vasta classe de pequenos e médios artesãos e comerciantes que pudesse fornecer a “mão-de-obra” para uma revolução burguesa (devido à modernização do sector industrial, o único “povo” disponível – nas cidades – são mesmo os operários).
É aqui que entra em cena a “Revolução Permanente”: segundo Trotsky, a burguesia já não é capaz de fazer a sua própria “revolução burguesa”, tendo que ser o proletariado a encarregar-se disso. Mas, sendo o proletariado a fazer a “revolução burguesa”, este não se contentará com o programa “liberal-burguês” (ia abolir a monarquia absoluta, liquidar o feudalismo, etc.), e irá logo começar a pôr em prática o “programa socialista” – assim, a revolução é “permanente”, já que, pela sua própria dinâmica, tenderá a evoluir para posições cada vez mais radicais (no caso russo, a revolução começou por ser democrática e republicana e, em poucos meses, tornou-se socialista – aliás, o PREC português teve uma dinâmica semelhança.
..."Pensaram que eu era Surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
Frida, ferida............
O leito perfeito, sempre vivindu...
Eu, em mim, num só de nós assim, cinza cetim, ao fim!
Esvaiu-se no mais puro sonho maternal...Ao que Rivera lhe concedera!
Eu, em mim, num só de nós assim, cinza cetim, ao fim!
Esvaiu-se no mais puro sonho maternal...Ao que Rivera lhe concedera!
Ferido o veado, na Natureza caçado, nunca ao lugar da Terra terá espaço.
Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso para toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar sua obra. Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de precalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite de sua época, ela gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de declarar-se filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais. Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Frida Kahlo recomendou, um dia, a ela: 'Faz da vida tudo o que ela te der, seja o que for, sempre que te interesse e possa dar certo.' Ela costumava dizer que 'a tragédia é o mais ridículo que há' e 'nada vale mais do que a risada'. E na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta no seu leito. Oficialmente, a morte foi causada por 'embolia pulmonar', mas há suspeita de suicídio. No diário, deixou as últimas palavras: 'Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais.'
Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso para toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar sua obra. Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de precalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite de sua época, ela gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de declarar-se filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais. Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Frida Kahlo recomendou, um dia, a ela: 'Faz da vida tudo o que ela te der, seja o que for, sempre que te interesse e possa dar certo.' Ela costumava dizer que 'a tragédia é o mais ridículo que há' e 'nada vale mais do que a risada'. E na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta no seu leito. Oficialmente, a morte foi causada por 'embolia pulmonar', mas há suspeita de suicídio. No diário, deixou as últimas palavras: 'Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais.'
"Scoba frolida an Agosto…"
"Ai!… You nun podie falar!…"
_ Diç la nina, mui sentida _
_ "I la mie lhéngua soltou-se.
Parece que tengo outra bida!"
_ Diç la nina, mui sentida _
_ "I la mie lhéngua soltou-se.
Parece que tengo outra bida!"
_"Andai a bé-la, no Monte,
Beni!… I podereis crer!…
… You, q’era mudica I xorda,
Oubo I falo! … _ stais a ber?!…"
_"Mas que stranha cousa esta _"
_ Diç tola giente admirada _
_"Cumo fui isto?… Eras muda,
I agora, falas tan clara?!…"
_" Milagre!…" _ Diç tola giente _
_ "Que cousa tan d’admirar!…
Scoba frolida an Agosto,
La nina muda a falar!…"
"Scoba frolida an Agosto…" Lienda de Nuossa Senhora de l monte de Dues Eigreijas, de António Maria Mourinho, 1979
DUES LHÉNGUAS
Andube anhos a filo cula lhéngua trocida pula
oubrigar a salir de l sou camino i tener de
pensar antes de dezir las palabras ciertas:
ua lhéngua naciu-me comi-la an merendas bebi-la an fuontes i rigueiros
outra ye çpoijo dua guerra de muitas batailhas.
Agora tengo dues lhénguas cumigo
i yá nun passo sin ambas a dues.
Stou siempre a trocar de lhéngua meio a miedo
cumo se fura un caso de bigamie.
Ua sabe cousas que la outra nun conhece
ríen-se ua de la outra fazendo caçuada i a las bezes anrábian-se
afuora esso dan-se tan bien que sonho nas dues al miesmo tiempo.
Hai dies an que quiero falar ua i sale-me la outra.
Hai dies an que quedo cun ua deilhas tan amarfanhada que se nun la falar arrebento.
Hai dies an que se m’angarabátan ua an la outra
i apuis bótan-se a correr a ber quien chega purmeiro
i muitas bezes acában por salir ancatrapelhadas ua an la outra
i a mi dá-me la risa.
Hai dies an que quedo todo debelgado culas palabras por dezir
i ancarrapito-me neilhas cumo ua scalada
i deixo-las bolar cumo música
cul miedo que anferrúgen las cuordas que las sáben tocar.
Hai dies an que quiero bertir ua pa la outra
mas las palabras scónden-se-me
i passo muito tiempo atrás deilhas.
Antre eilhas debíden l miu mundo
i quando pássan la frunteira sínten-se meio perdidas
i fártan-se de roubar palabras ua a la outra.
Ambas a dues pénsan
mas hai partes de l coraçon an que ua deilhas nun cunsigue antrar
i quando s’achega a la puorta pon l sangre a golsiar de las palabras.
Cada ua fui porsora de la outra:
l mirandés naciu purmeiro i you afize-me a drumir arrolhado puls sous sonidos calientes
cumo lúrias
i ansinou l pertués a falar guiando-le la boç;
l pertués naciu-me an la punta de ls dedos
i ansinou l mirandés a screbir porque este nunca tube scuola para adonde ir.
Tengo dues lhénguas cumigo
dues lhénguas que me fazírun
i yá nun passo nien sou you sin ambas a dues.
Fracisco Niebro, in Cebadeiros, ed. Campo das Letras, 2000
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Hai lhénguas que son de muitos, i hai lhénguas que poucos úsan.
A língua é laço, união, presença no mundo. Há línguas que tendem a unir o mundo todo e há línguas que unem apenas meia dúzia de sobreviventes. Falar é defender a vida de uma comunidade, seja ela pequena ou grande. E quanto mais pequena, quanto mais diminuída, mais necessidade tem de se unir para sobreviver. Mais precisa de marcar a sua presença.
Falar é poder.
E o poder de uma fala é a medida do seu poder no mundo. Quanto mais poder tem, maior é o número daqueles que têm de a aprender para saberem como funciona o mundo em que se movem. Os que falam línguas pequenas têm todo o interesse em aprender e em conhecer profundamente as línguas maiores com que convivem. Mas têm também todo o interesse em refugiar-se, quando precisam, no reduto da sua própria língua, que os mais poderosos não sabem e até desdenham.
Para as pequenas comunidades, a sua capacidade de manter a língua própria é a medida da sua capacidade de resistir à massificação. É, no fim de contas, a demonstração de que pode sobreviver enquanto comunidade específica.
O tamanho de uma língua mede-se pelo número dos seus falantes. De grande tamanho é a língua que muita gente conhece e língua pequena é uma língua com poucos utilizadores. Mas o tamanho de uma língua não é o mesmo que a sua grandeza. A grandeza da língua está noutro plano.
Falar é poder.
E o poder de uma fala é a medida do seu poder no mundo. Quanto mais poder tem, maior é o número daqueles que têm de a aprender para saberem como funciona o mundo em que se movem. Os que falam línguas pequenas têm todo o interesse em aprender e em conhecer profundamente as línguas maiores com que convivem. Mas têm também todo o interesse em refugiar-se, quando precisam, no reduto da sua própria língua, que os mais poderosos não sabem e até desdenham.
Para as pequenas comunidades, a sua capacidade de manter a língua própria é a medida da sua capacidade de resistir à massificação. É, no fim de contas, a demonstração de que pode sobreviver enquanto comunidade específica.
O tamanho de uma língua mede-se pelo número dos seus falantes. De grande tamanho é a língua que muita gente conhece e língua pequena é uma língua com poucos utilizadores. Mas o tamanho de uma língua não é o mesmo que a sua grandeza. A grandeza da língua está noutro plano.
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Portugal está na merda!!!
Estranho este mundo onde vivemos. A apatia e o conformismo, com o nosso consentimento, tomaram conta dos nossos dias. A imaginação encontra-se num avançado estado de degradação e poucos são aqueles que fazem dela sua conspiradora.
E assim vai Portugal...
Mergulhado na sua brilhante hipocrisia, onde a ignorância impera por gozo, e as verdades são ocultadas com alguma mestria pelos seus curiosos habitantes.Pessimistas, nacionalistas da treta, que não se dão valor, que se refugiam em mitos do passado e em complexos de inferioridade que nem com cem sessões de psicanálise se controlavam.Um país onde a falta de civismo parece continuar a imperar.Homens que cospem para o chão, senhoras e senhores que levam os seus cãezinhos a passear, e deixam os seus dejectos a céu aberto à espera que algum distraído neles derrape.Pastilhas elásticas e muito lixo a esvoaçar pelas nossas belas calçadas portuguesas.Vizinhos de porta com porta que não se cumprimentam nem com o simples e educado: - BOM DIA!Empregadas(os) de loja, cansadas(os) é bem verdade, pois não é fácil estar todo o dia de pé a atender clientes muitas vezes ignóbeis e imbecis, mas custava-lhes muito serem mais educadas(os) e fazer um esforço, mesmo que sobre-humano, por serem mais simpáticas(os)?E ao cliente mal-educado digo: Respeito, por favor!Políticos que mais parecem fantoches dominados pela vaidade de terem bons carros e boas casas sem tentarem ser bons na sua própria profissão. Cambada de palhaços, nem pessoas sabem ser quanto mais governantes de um país!Programas de televisão abjectos que me suscitam repulsa, um insulto à inteligência do povo, que acaba por consumir aquilo por falta de outras opções. E não falo das novelas, que essas são um mal menor, quando comparadas com certos programas que passam no serão de certos canais.Celebridades feitas à pressão, um suposto mundo de elite, um tal de Jet7, criado para fazer sonhar seres amorfos e sem vida.Uma "feira das vaidades" labiríntica e frustrada, onde muitas louras siliconadas e sem meio de subsistência dançam alegremente os seus leves vestidos de seda.Mentes fechadas e xenófobas povoam as nossas ruas e ruelas, os nossos bairros e avenidas, o racismo é um poço sem fundo na mentalidade do povo.Tribos urbanas que se discriminam, intolerância com os outros, preconceitos vários, ideias erróneas acerca do que é a liberdade...Enfim, assim vai Portugal e o mundo...Onde a beleza é suprema e a fealdade olhada de lado, onde todos pretendem ser normalizados pelos sistema como carneirinhos, todos iguais, sem pensamento nem imaginação própria...Porque é impossível ginasticar a mente no meio de tanta parvoíce! É difícil educar um povo que segue a via mais fácil da imitação e que não se interroga do que é afinal a vida! Que não lê, ou lê o que não deve, e que enche a cabeça com lixo televisivo ou imprensa sensacionalista.Eu sou um inadaptado neste meu querido Portugal, mas quero acreditar que a mudança está para breve.E um dia seremos de facto livres, livres para viver a nossa real liberdade, se é que ela existe.E assim correm os dias em Portugal na sua santa normalidade! Onde nada muda e tudo parece igual!
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Capitalismo VS Comunismo
"O Capitalismo, segundo seus defensores, é o meio mais eficiente e eficaz de prosperidade, desenvolvimento e eliminação de pobreza nas sociedades, devido ao seguinte argumento central: cada indivíduo, por depender basicamente do seu próprio esforço, por ter direito a acumular e desfrutar dos produtos gerados por este esfoço, por ter de assumir e colocar em risco seu próprio patrimônio é altamente motivado a utilizar seus recursos (materiais e intelectuais) da melhor forma (mais eficiente) possível, e a melhor possível é a que gera maior riqueza para a sociedade, já que os indivíduos dependem de transações voluntárias." Ora nao basta serem os defensores do capitalismo uns idiotas da Humanidade, para termos tambem a definiçao mais estupida que possa existir, ja que refere que este é o melhor meio de sobrevivencia para a sociedade! E entao do comunismo que dizem eles? "O Comunismo é um sistema econômico que nega a propriedade privada dos meios de produção. Num sistema comunista os meios de produção são de propriedade comum a todos os cidadãos e são controlados por seus trabalhadores. Sob tal sistema, o Estado não tem necessidade de existir e é extinto."( definiçao pela Wikipédia).
Bem, patetices sobre patetices, burrices e mais burrices....Os capitalistas almejam a propagação do "pensamento único", da uniformização dos seres humanos. Tentam neutralizar as justas revoltas dos trabalhadores bombardeando-os massivamente com a inverossímil ideia de que a sociedade actual é a ideal e assim deve continuar. Taxam os que almejam a igualdade social como retrógrados e aculturados, ou então de neobobos, cassandristas e fracassomaníacos.Os patrões capitalistas induzem o proletário a ver o seu salário como justo. E o facto do pobre morrer de fome deve-se apenas ao desaventurado, por não procurar emprego e não se dedicar. A culpa da passividade proletária, portanto, não é dos trabalhadores. A saída para mudar tal situação é educar e politizar o povo. Mas o Estado, representante da burguesia, não oferece educação crítica às pessoas porque um povo consciente e politizado passa a lutar pelos seus direitos, que vão de encontro com a exploração capitalista. Portanto temos de ler e estudar incessantemente. Invés de ficarmos assistir a uma telenovela ou a um filme alienígena paupérrimos culturalmente, abramos um livro, vamos inteirar-nos com a nossa comunidade, conhecer os anseios da nossa sociedade. Não podemos ter a nossa vida regida pela Ideologia da Classe Dominante. Devemos ter a consciência de que, para termos igualdade social, não basta dar uma esmola ao mendigo da esquina e dormir o sono dos justos. É necessária uma mudança profunda nas relações sociais e a correcta divisão dos meios de produção. Portanto, desconfiemos de tudo que nos é apresentado explicadinho, prontinho, e com papa feita. Esse método, não nos faz pensar,este é o modo das classes dominantes impedirem-nos de questionar a sociedade actual. Apresentam-nos o desenrolar da história como se não houvesse outro modo de tê-la construído. Mas, na verdade, nós podemos levantar-nos, agir e escolher novos caminhos. Muitos preferem abster-se de tais discussões auto-intitulando-se de "apolíticos". Mas esse tipo de pessoa, na realidade, é covarde, omissa e não reagindo está em pacto com tudo que está acontecer. A sociedade e a realidade actual são o trabalho de milhões de pessoas durante séculos de história. Temos o Estado dominador e opressor que não permite que interfiramos nas regalias burguesas, é necessária uma revolução que dê ao povo o básico da dignidade: paz, igualdade, justiça, pão e terra como diria Lula da Silva.
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Lágrimas Ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
Charneca em Flor
Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio!
Asas abertas!
O que trago
Em mim?
Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Por fim, um poema assim!
Maia, 21 de Setembro 2005
Por fim…
Poderia até ser o título de um livro qualquer, um fim de um Verão, uma prosa inacabada, uma poesia malograda.
Por fim…
Poderia até ser o título de um livro qualquer, um fim de um Verão, uma prosa inacabada, uma poesia malograda.
Por fim seria uma explicação de um conjunto, de uma sequência, de uma apresentação…
Somando todos os números, subtraindo as coisas por demais, multiplicando a bondade e compreensão, e dividindo a mentalidade Humana (Humanidade), por fim poderia até ser o resultado, o resto, um excesso de uma diferença.
Por fim poderia até estar a filosofar, a pensar, a escorrer pensamento numa página feita de uma última árvore qualquer, com uma lapiseira de mina em seu fim, Por Fim!
Uma partida, após uma chegada, um prenuncio avistando o seu fim, uma ida antevendo a sua volta, uma folha leve, leve, leve, caindo sobre um cetim…
Por fim, vais! – Partirás com denúncia de uma saudade em mim. De uma ternura em abraços traduzida, de um conto começado por uma fábula nunca vivida, numa Lua de fase em seu fim. Enfim!
Foi-se, para longe… não longe de mim, tendo a consciência daquilo que vai lutar, pela força que vai levar, longe do seu fim!
Pequena Lusitana, enredada de pronúncia malfeitora, de tormentos violentos e desalentos, sai vencedora e duradoura, de noites passadas em húmidos relentos.
Objectivos delineados, pretensão adquirida, mangas arregaçadas, assim vai ela lutar pela VIDA!
Por fim...em mim!
sábado, 28 de abril de 2007
25 de Abril 2007, rua do Carmo!
25 de Abril de 2007, 17h 30 m, um grupo vestido de negro atormenta a praça da Figueira com vozes de liberdade! Atormenta a serenidade de uma desmobilização inesperada, por parte dos tradicionais manifestantes de Abril, que pareceu diluída por um tempo ventoso e frio.
Nada os fez temer, nem as hostes dos FIR- força de intervençao rápida, nem mesmo os cidadãos que os confundindo com Neo-Nazis ( Valha-me Deuzzz, diria o diácone) lhes chamavam maus nomes de boca fechada! A notória reacção à popa fascista, xenófoba e racista que assistimos estremeceu o coração de qualquer transeunte. Encurralados entre o homem de bigode delicadamente enrolado e pontiagudo de cor cinzenta como uma castanha caída ao carvão, e os panos suspensos por mãos de foices empunhando martelos em bandeiras, ficamos em atitude framista, tentando fotografar com a mente todos os cartazes empunhados, já que as caras estavam protegidas por panos de negros de Guerra. Uma Guerra não gerada por eles, alheios a qualquer confusão que se viessa a suceder, uma Guerra em nada suja e sangrenta como as Guerras Hitlerianas, Bushistas ou até Sócrato-Salazaristas. Proclamavam a Paz perdida, a liberdade fugida. Defendiam as várias raças, as várias opções, os vários modus-vivendus, mas eles, os Bajuladores-FIR, os defensores do Estado e não da ordem pública, os defensores da repressão, os defensores da virilidade punidora, os defensores das armas pelos cravos, não evitaram a confusão, as agressões, as detenções. Um espectáculo vergonhoso! Enquanto dezenas de agentes distribuíam pancadaria pelos cravos, seis PSP, guardavam de forma orgulhosa um cartaz do PNR, colocado centenas de metros mais acima. Não fosse o diabo tecê-las e os turistas confundirem PNR com Polícia da Nova Repressão.
Chiado, 19h30 m, o cenário!- Multidão, gritos, euforismo, sirenes...
• Rua do Carmo, junto ao c.c. do Chiado, decorria a manifestação autorizada pela polícia, tendo em conta que a acompanhava, tal como é costume em qualquer manifestação.
• Após alguns indivíduos terem pintado numa parede algumas palavras, cerca de 6 elementos das forças policiais, apenas identificáveis pelos cacetetes que empunharam depois, agarraram os supostos prevaricadores.
• Tendo os detidos manifestado alguma resistência, o caso, até aí banal, mudou completamente de figura.
• Os manifestantes, voltaram-se para trás, subiram a rua do Carmo e tentaram resgatar os seus companheiros de manifestação. Os elementos policiais, que não ostentavam qualquer identificação, repito, chamaram obviamente reforços, era notória a aflição dos agentes, suplicando "venham depressa, mobilizem reforços, é grave é grave!Repito...DEPRESSA!"
• Em apenas um minuto, a Rua do Carmo estava cercada por cima e por baixo, por forças policiais anti-motim.
• É claro que devido ao dia em questão e à zona em causa, estavam muitos turistas, crianças, idosos, meros transeuntes e clientes do comércio que envolve toda a zona do chiado, na Rua do Carmo, no preciso momento em que o motim começou.
• A natureza contestatária dos manifestantes (devo referir também que se tratava de uma manifestação contra o neo-fascismo e contra a xenofobia), bem conhecida anteriormente pela polícia, podia ter sugerido aos responsáveis policiais, adoptar uma posição mais cautelosa.
• Mostraram no entanto, «muita coragem e sentido do dever», pois, não se detiveram perante a primeira provocação fora da lei (tipica de primeiro-ministro).
• Em dois segundos estavamos no meio da confusão.
• Deu-se a carga, fugiram por onde conseguiram os jovens manifestantes, levando tanta pancada quanta lhes conseguiram dar os polícias. Foi só após uns bons minutos que se ouviu da parte de um dos policiais, um igual a todos os outros corajosos policias, uma palavra na direcção dos transeuntes que como nós estavam no meio daquela trapalhada. -Saiam já daqui! Para baixo! Fora! Desmobilzem!- e foi um pandemónio.
•Uma bela imagem de Democracia oferecida aos inúmeros turistas que ainda vêm a Portugal para celebrá-la.
•Uma única manifestante oferecia ao agente um cravo de liberdade, ao que este recusou movimentando a cabeça no sentido da negação. A rapariga de ar singelo atirou-o, em sentido de paz, até junto dos pés bem protegidos do polícia. O cravo ali permaneceu, de vermelho murcho, enfraquecendo as suas pétalas unidas. Acabaria esmagado!
•Dá-se pancada.
•Dão-se péssimos exemplos de tolerância.
Importa referir a data...25 de Abril de 2007, rua do Carmo.
A Luta continua...eles estão aí!
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Vale a pena ler!
De repente, num sonho, sou capaz de deslocar o sol e moldar-me em forma de pentagrama, depois abraço a lua, toco nos meus lábios e sangro a vida.
Parto num beijo, esqueço por momentos a minha tortura e os meus espasmos de dor, renasço sem saber para quê. Fico à espera do recriar do sonho, talvez consiga permanecer acordado, afinal também estou ansioso por experimentar novas formas de vida.
Parto num beijo, esqueço por momentos a minha tortura e os meus espasmos de dor, renasço sem saber para quê. Fico à espera do recriar do sonho, talvez consiga permanecer acordado, afinal também estou ansioso por experimentar novas formas de vida.
Quem sabe a minha queda não me deu força para continuar, quem sabe se estive no paraíso da solidão ou no limbo que precede a felicidade. Sei, por outro lado, que denunciei a minha dor, o medo foi capturado pelo pecado, a viagem eternizada pelas minhas lágrimas, aquilo que nunca esperei está neste momento a abraçar-me. Estou também consciente de que a minha existência ainda não foi apagada.
Talvez uma insignificante dor me impeça de me arrastar, os meus olhos brilham um pouco mais, mas não posso libertar-me de pensamentos de morte. Preso a um caminho, seguindo sempre a mesma questão, anseio pelo fim do meu terrível aspecto.Tudo o que de sagrado existe, tudo o que de profano me abraça, é apenas amor sem dor, dor sem amor. Hipnotizado pelos olhos da escuridão, quero procurar a penumbra e conhecer o sonho da vida. A minha alma azul leva-me para demasiado longe, o céu puro arde e une-se ao inferno. Um estranho circuito nasce e cobre a humanidade. Plim*
Viver...
Viver...
É ter consciência da realidade que se esconde atrás da aparência.
É ver além dos cinco sentidos.
É enxergar com os olhos da alma...
A vida materializa os nossos pensamentos.
Conforme acreditamos, ela se torna.
Cultivando o medo, a falta de amor, o egoísmo e a descrença.
Não é esse o caminho.
As pessoas querem, mas nas suas atitudes revelam o opsto.
Para receber é preciso primeiro dar.
Para atrair é preciso irradiar.
Essa é a força da vida.
A dor, o sofrimento, a maldade, o ódio, a ignorância, vem da nossanecessidadede perceber.
De que adiantaria acender uma luz na claridade?
É nas trevas que ela é percebida.
Sem a tristeza, a alegria não seria percebida.
Sem a carência a abundância não teria significado.
Somos todos crianças na "escola da vida".
Durante a nossa "infância", precisamos experimentar para ganhar senso derealidade...
O sofrimento é pano de fundo para que o bem seja notado.
A dor serve para nos levar aos cuidados da preservação.
É um alerta que nos adverte que algo não está bem.
Sem ela, não teríamos referencial.
terça-feira, 17 de abril de 2007
Ramon Sampedro - Mar adentro!
"Srs. Jueces, Autoridades Políticas y Religiosas:
Después de las imágenes que acaban de ver; a una persona cuidando de un cuerpo atrofiado y deformado -el mío- yo les pregunto: ¿qué significa para Vds. la dignidad? Sea cual sea la respuesta de vuestras conciencias, para mí la dignidad no es esto. ¡Esto no es vivir dignamente! Yo, igual que algunos jueces, y la mayoría de las personas que aman la vida y la libertad, pienso que vivir es un derecho, no una obligación. Sin embargo he sido obligado a soportar esta penosa situación durante 29 años, cuatro meses y algunos días. ¡Me niego a continuar haciéndolo por más tiempo! Aquellos de vosotros que os preguntéis: ¿Por qué morirme ahora -y de este modo- si es igual de ilegal que hace 29 años? Entre otras razones, porque hace 29 años la libertad que hoy demando no cabía en la ley. Hoy sí. Y es por tanto vuestra desidia la que me obliga a hacer lo que estoy haciendo.
Van a cumplirse cinco años que -en mi demanda judicial- les hice la siguiente pregunta: ¿debe ser castigada la persona que ayude en mi eutanasia? Según la Constitución española -y sin ser un experto en temas jurídicos- categóricamente NO. Pero el Tribunal competente -es decir, el Constitucional- se niega a responder. Los políticos -legisladores- responden indirectamente haciendo una chapuza jurídica en la reforma del Código Penal. Y los religiosos dan gracias a Dios porque así sea. Esto no es autoridad ética o moral. Esto es chulería política, paternalismo intolerante y fanatismo religioso.
Yo acudí a la justicia con el fin de que mis actos no tuviesen consecuencias penales para nadie. Llevo esperando cinco años. Y como tanta desidia me parece una burla, he decidido poner fin a todo esto de la forma que considero más digna, humana y racional. Como pueden ver, a mi lado tengo un vaso de agua conteniendo una dosis de cianuro de potasio. Cuando lo beba habré renunciado -voluntariamente- a la propiedad más legítima y privada que poseo; es decir, mi cuerpo. También me habré liberado de una humillante esclavitud -la tetraplegia-. A este acto de libertad -con ayuda- le llaman Vds. cooperación en un suicidio -o suicidio asistido-. Sin embargo yo lo considero ayuda necesaria -y humana- para ser dueño y soberano de lo único que el ser humano puede llamar realmente "Mío", es decir, el cuerpo y lo que con él es -o está- la vida y su conciencia.
Pueden Vds. castigar a ese prójimo que me ha amado y fue coherente con ese amor, es decir, amándome como a sí mismo. Claro que para ello tuvo que vencer el terror psicológico a vuestra venganza -ese es todo su delito-. Además de aceptar el deber moral de hacer lo que debe, es decir, lo que menos le interesa y más le duele. Sí, pueden castigar, pero Vds. saben que es una simple venganza -legal pero no legítima-. Vds. saben que es una injusticia, ya que no les cabe la menor duda de que el único responsable de mis actos soy yo, y solamente yo. Pero, si a pesar de mis razones deciden ejemplarizar con el castigo atemorizador, yo les aconsejo -y ruego- que hagan lo justo: Córtenle al cooperador/ra los brazos y las piernas porque eso fue lo que de su persona he necesitado. La conciencia fue mía. Por tanto, míos han sido el acto y la intención de los hechos.
Srs. jueces, negar la propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas -entre ellas la tierra y el agua- es una aberración negar la propiedad más privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y conciencia. -Nuestro Universo-". (A continuación hay unos párrafos de despedida escritos en gallego dedicados a su familia que no se reproducen aquí por respeto a su intimidad) "Srs. Jueces, Autoridades Políticas y Religiosas: No es que mi conciencia se halle atrapada en la deformidad de mi cuerpo atrofiado e insensible, sino en la deformidad, atrofia e insensibilidad de vuestras conciencias".
Van a cumplirse cinco años que -en mi demanda judicial- les hice la siguiente pregunta: ¿debe ser castigada la persona que ayude en mi eutanasia? Según la Constitución española -y sin ser un experto en temas jurídicos- categóricamente NO. Pero el Tribunal competente -es decir, el Constitucional- se niega a responder. Los políticos -legisladores- responden indirectamente haciendo una chapuza jurídica en la reforma del Código Penal. Y los religiosos dan gracias a Dios porque así sea. Esto no es autoridad ética o moral. Esto es chulería política, paternalismo intolerante y fanatismo religioso.
Yo acudí a la justicia con el fin de que mis actos no tuviesen consecuencias penales para nadie. Llevo esperando cinco años. Y como tanta desidia me parece una burla, he decidido poner fin a todo esto de la forma que considero más digna, humana y racional. Como pueden ver, a mi lado tengo un vaso de agua conteniendo una dosis de cianuro de potasio. Cuando lo beba habré renunciado -voluntariamente- a la propiedad más legítima y privada que poseo; es decir, mi cuerpo. También me habré liberado de una humillante esclavitud -la tetraplegia-. A este acto de libertad -con ayuda- le llaman Vds. cooperación en un suicidio -o suicidio asistido-. Sin embargo yo lo considero ayuda necesaria -y humana- para ser dueño y soberano de lo único que el ser humano puede llamar realmente "Mío", es decir, el cuerpo y lo que con él es -o está- la vida y su conciencia.
Pueden Vds. castigar a ese prójimo que me ha amado y fue coherente con ese amor, es decir, amándome como a sí mismo. Claro que para ello tuvo que vencer el terror psicológico a vuestra venganza -ese es todo su delito-. Además de aceptar el deber moral de hacer lo que debe, es decir, lo que menos le interesa y más le duele. Sí, pueden castigar, pero Vds. saben que es una simple venganza -legal pero no legítima-. Vds. saben que es una injusticia, ya que no les cabe la menor duda de que el único responsable de mis actos soy yo, y solamente yo. Pero, si a pesar de mis razones deciden ejemplarizar con el castigo atemorizador, yo les aconsejo -y ruego- que hagan lo justo: Córtenle al cooperador/ra los brazos y las piernas porque eso fue lo que de su persona he necesitado. La conciencia fue mía. Por tanto, míos han sido el acto y la intención de los hechos.
Srs. jueces, negar la propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas -entre ellas la tierra y el agua- es una aberración negar la propiedad más privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y conciencia. -Nuestro Universo-". (A continuación hay unos párrafos de despedida escritos en gallego dedicados a su familia que no se reproducen aquí por respeto a su intimidad) "Srs. Jueces, Autoridades Políticas y Religiosas: No es que mi conciencia se halle atrapada en la deformidad de mi cuerpo atrofiado e insensible, sino en la deformidad, atrofia e insensibilidad de vuestras conciencias".
Ramon Sampedro
Também eu no Rossio!
As pessoas passam por aqui todos os dias, apressando-se para irem trabalhar e raramente reparam na beleza do que têm à sua volta. Não é apenas a beleza dos seus monumentos e das suas fontes, ou a sua fascinante história... o Rossio é um livro vivo. Recentemente renovado, não perdeu contudo o seu misticismo... Podes senti-lo no Teatro Nacional D. Maria II, onde muitas peças foram, e são, representadas e vistas por reis e rainhas, nas fontes usadas no início de Outubro para baptizar os caloiros acabadinhos de entrar na universidade, nos cafés em tempos frequentados por personalidades portuguesas - e... sim... nas castanhas assadas que já se vendem na Praça do Rossio há muitos, muitos anos. No meio da praça está uma estátua de D. Pedro IV e a seus pés quatro figuras femininas representam a Justiça, a Sabedoria, a Força e a Temperança, qualidades atribuídas a D. Pedro. A praça, ao início conhecida como Praça D. Pedro IV, ficou conhecida como Rossio entre os habitantes locais e continua a ser um ponto de encontro tradicional não só para os lisboetas, como também para todos os que visitam Lisboa. Eu próprio confesso que me rendi ao encanto desta praça! Só a estraga o ministério das finanças mesmo ao lado, que leva de certa forma a fugirem daquele local o mais atempadamente possível...
Ao Eugénio! - Génio do Douro poesia.
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos é que a areia queima,
o sol é secreto, cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é mínha.
ANNIE SILVA PAIS: a filha rebelde
"Aos 30 anos de idade, em Outubro de 1965, Annie Silva Pais, filha única do director da PIDE, toma uma decisão considerada ultrajante para o pai e para o regime português: abandona o marido, a família, os amigos e o país para se entregar à revolução cubana. Desaparece durante três meses. No Portugal de Salazar teme-se que tenha sido raptada para ser utilizada como arma no contexto da luta anticolonial. Quando reaparece, Annie revela uma ardente paixão por Che Guevara, enamora-se do médico pessoal de Fidel Castro e estabelece uma prolongada relação com o ministro do Interior, José Abrantes, que há-de morrer numa prisão de Havana. Tradutora e intérprete de Fidel, Annie só regressa a Portugal após o 25 de Abril, para ir visitar o pai à prisão de Peniche. Trabalha na 5ª Divisão do MFA durante o Verão Quente de 1975 e morre em Cuba em Julho de 1990, vítima de cancro."
A Galiza aqui tão perto!
Alberto Castro, Professor universitário
Para os nortenhos da minha geração, a Galiza foi sempre uma terra de encantos. Antes do 25 de Abril não se falava tanto de Galiza mas de Espanha isso de autonomias era coisa de que nem Franco nem Salazar gostavam. Ainda criança, lembro-me de o meu pai me explicar o estranho linguarejar de um velho numa bomba de gasolina: falava Galego. Era assim uma espécie de Português antigo! E recordou-me as raízes comuns e o afastamento associado ao percurso próprio de Portugal, após a independência.Ir a Tui ou Vigo era epopeia de um dia. Com as estradas e os carros de então, ir a Santiago era empreitada para um fim-de-semana. A Corunha, essa, era mesmo no fim do mundo, como que a fazer justiça à designação de Finisterra.Saía-se cedo e faziam-se apostas quanto ao número de carros que íamos apanhar na bicha da fronteira. Faziam-se compras, almoçava-se bem, deslumbrávamo-nos com as rias e os monumentos. O regresso tinha sempre o momento de "suspense" do controlo aduaneiro. O coração batia mais forte quando o guarda abria a mala, espreitava para dentro do carro, verificava se os pneus eram novos. Quando se ouvia o ansiado "pode seguir", e a fronteira desaparecia na primeira curva, era a algazarra. As diferenças entre as duas regiões não pareciam muitas. Mais tarde, quando me interessei pelas coisas da economia, os números confirmaram isso mesmo, embora a vantagem pendesse para o lado de cá. E assim foi sendo, mesmo já depois do 25 de Abril, com os economistas portugueses a serem convidados para explicar o milagre português, nomeadamente a baixíssima taxa de desemprego, uma moléstia que tanto afligia os nossos vizinhos. Com a chegada da democracia a Espanha, os desejos de autonomia de algumas regiões, entre as quais a Galiza, reacenderam-se e obtiveram consagração. Do lado de cá, havia as regiões-plano e as respectivas comissões de coordenação. Os intercâmbios entre o Norte e a Galiza intensificaram-se e as assimetrias de poder de decisão começaram a vir ao de cima. Enquanto do lado de lá uma discussão podia acabar com a fixação de um objectivo e um orçamento estipulado, do lado português elaboravam-se relatórios para os vários ministérios de tutela. E ficava-se a aguardar. O que se conseguia era, muitas das vezes, o resultado do empenho dos sucessivos presidentes da CCDR. A eles e a um punhado de militantes sonhadores se deve o facto de a cooperação não ter morrido e ter construído história e ganho reputação. Feita a aprendizagem, a Xunta começou a ser cada vez mais dinâmica e ambiciosa. Internamente e no plano da cooperação transfronteiriça. E continuou a ter interlocutores que assinavam por baixo no plano das intenções e esperavam que o governo central fosse solidário. Entretanto, a Galiza acelerava. Igualava-nos e, na mesma passada, ultrapassava-nos. Não obstante aquilo que, já na altura, parecia evidência suficiente, no referendo para a regionalização, os "entendidos" menorizaram a experiência espanhola que chegou mesmo a ser criticada. Desde aí, Portugal assistiu, impávido e sereno, do cimo da sua racionalidade centralista e centralizadora, à cavalgada espanhola. Para a qual todos reconhecem que contribuíram, decisivamente, a emulação entre as autonomias, a capacidade que os governos respectivos tiveram de interpretar as necessidades e os anseios dos seus vizinhos, também eleitores, e de desenhar estratégias que se ajustassem às suas capacidades, competências e desejos. A determinação, a ambição e a capacidade de decidir fizeram o resto. Será que da próxima vez ainda haverá a coragem de negar a evidência? Quando estão em jogo interesses instalados, nunca se sabe!
Alberto Castro escreve no JN, semanalmente, às terças-feiras
BY DOMINGOS
Para os nortenhos da minha geração, a Galiza foi sempre uma terra de encantos. Antes do 25 de Abril não se falava tanto de Galiza mas de Espanha isso de autonomias era coisa de que nem Franco nem Salazar gostavam. Ainda criança, lembro-me de o meu pai me explicar o estranho linguarejar de um velho numa bomba de gasolina: falava Galego. Era assim uma espécie de Português antigo! E recordou-me as raízes comuns e o afastamento associado ao percurso próprio de Portugal, após a independência.Ir a Tui ou Vigo era epopeia de um dia. Com as estradas e os carros de então, ir a Santiago era empreitada para um fim-de-semana. A Corunha, essa, era mesmo no fim do mundo, como que a fazer justiça à designação de Finisterra.Saía-se cedo e faziam-se apostas quanto ao número de carros que íamos apanhar na bicha da fronteira. Faziam-se compras, almoçava-se bem, deslumbrávamo-nos com as rias e os monumentos. O regresso tinha sempre o momento de "suspense" do controlo aduaneiro. O coração batia mais forte quando o guarda abria a mala, espreitava para dentro do carro, verificava se os pneus eram novos. Quando se ouvia o ansiado "pode seguir", e a fronteira desaparecia na primeira curva, era a algazarra. As diferenças entre as duas regiões não pareciam muitas. Mais tarde, quando me interessei pelas coisas da economia, os números confirmaram isso mesmo, embora a vantagem pendesse para o lado de cá. E assim foi sendo, mesmo já depois do 25 de Abril, com os economistas portugueses a serem convidados para explicar o milagre português, nomeadamente a baixíssima taxa de desemprego, uma moléstia que tanto afligia os nossos vizinhos. Com a chegada da democracia a Espanha, os desejos de autonomia de algumas regiões, entre as quais a Galiza, reacenderam-se e obtiveram consagração. Do lado de cá, havia as regiões-plano e as respectivas comissões de coordenação. Os intercâmbios entre o Norte e a Galiza intensificaram-se e as assimetrias de poder de decisão começaram a vir ao de cima. Enquanto do lado de lá uma discussão podia acabar com a fixação de um objectivo e um orçamento estipulado, do lado português elaboravam-se relatórios para os vários ministérios de tutela. E ficava-se a aguardar. O que se conseguia era, muitas das vezes, o resultado do empenho dos sucessivos presidentes da CCDR. A eles e a um punhado de militantes sonhadores se deve o facto de a cooperação não ter morrido e ter construído história e ganho reputação. Feita a aprendizagem, a Xunta começou a ser cada vez mais dinâmica e ambiciosa. Internamente e no plano da cooperação transfronteiriça. E continuou a ter interlocutores que assinavam por baixo no plano das intenções e esperavam que o governo central fosse solidário. Entretanto, a Galiza acelerava. Igualava-nos e, na mesma passada, ultrapassava-nos. Não obstante aquilo que, já na altura, parecia evidência suficiente, no referendo para a regionalização, os "entendidos" menorizaram a experiência espanhola que chegou mesmo a ser criticada. Desde aí, Portugal assistiu, impávido e sereno, do cimo da sua racionalidade centralista e centralizadora, à cavalgada espanhola. Para a qual todos reconhecem que contribuíram, decisivamente, a emulação entre as autonomias, a capacidade que os governos respectivos tiveram de interpretar as necessidades e os anseios dos seus vizinhos, também eleitores, e de desenhar estratégias que se ajustassem às suas capacidades, competências e desejos. A determinação, a ambição e a capacidade de decidir fizeram o resto. Será que da próxima vez ainda haverá a coragem de negar a evidência? Quando estão em jogo interesses instalados, nunca se sabe!
Alberto Castro escreve no JN, semanalmente, às terças-feiras
BY DOMINGOS
terça-feira, 14 de novembro de 2006
MAR ADENTRO
Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:
El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidosen un único deseo:
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
Homenagem à Praia de Palheiros da Tocha
Palheiros da Tocha, Junho de 2004
Havia percorrido 140 km...O meu destino estava à vista, durante a infinita avenida as árvores rodeavam-me, assim como o aroma do mar, a areia e o sol escaldante de pleno Verão. Vários pensamentos compenetravam-me, desde a família, aos amores, passando pelos amigos e até por todos aqueles que sem nunca os ter visto aparecem no quotidiano, são chamados ou designados de Sociedade, pois formam um todo, fora de cada pessoa!
Nesse dia havia feira, os murmúrios de que o circo tinha chegado à vila percorriam até as bocas mais caladas, fazendo com que os comerciantes trocassem pequenas piadas e dessa forma se inter-relacionassem para passarem um mais longo dia, onde cada banca clama ao seu bom produto, sendo estes produtos melhores que os do vizinho feirante...
Chegado à Tocha, vila onde a minha recepção foi sempre bem aceite, apareci na casa onde uns amigos dos meus pais esperavam-nos para um bom almoço, já que nesta casa todo o produto e alimento eram caseiros, as batatas, as couves, os recos, as cabras, e admirem-se a boa vontade. Cumprimentadas todas as pessoas, os mais novos agrupavam-se de forma eufórica indo mostrar os novos animais da quinta, o cavalo, os porcos novos, os coelhos acabadinhos de nascer e as novidades que se haviam entretanto passado tanto na praia como na vila. O almoço está pronto! - Aclamou D. Maria.
Pela tarde soalheira, o sol beijava a areia com a força máxima...Sensação que as ondas procuravam cada vez que se enrolavam nesse conjunto de inúmeras partículas arenosas. Os veraneantes entusiastas com a chegada do “ Pouca Sorte”, barco da Arte Xávega, aproximavam-se das longas redes que demorariam cerca de 3 horas a puxar manualmente, que finda a sua árdua busca trariam o mais belo peixe do profundo Oceano, leiloado ali mesmo, em plena areia, em pleno sol, em local vedado por uma corda ainda suada do esforço de tantas mãos, cujas gotas ao caírem na areia quente formavam uma textura.
Os pescadores suavam e suavam, suas camisas absorviam o puro dos suores, um suor vindo com a brisa marítima, que lentamente formava gotas após gotas nas suas cabeças expostas àquele sol escaldante de Verão.
Ao final da tarde era vez de começar a recolher todo o material e organizá-lo para que estivesse tudo pronto na manhã seguinte.
As pessoas abandonavam a praia, recolhiam-se para as suas casas ainda com um ar seco e quente. Mal arranjavam um sítio para se sentarem, tentavam limpar os pés cheios das mais minúsculas partículas de areia que tanto custavam a sair, giravam com a toalha de um lado para o outro e assim repetitivamente, aprochegavam os chinelos primeiro para um pé depois para o outro, era notório aquele cansaço de um dia refastelado ao sol.
Eu próprio cheguei ao final do dia sem saber como estava, sem saber para onde ia, sem saber bem o que se tinha passado comigo! – O sol começava a pôr-se, a sua luz ofuscava o céu, o brilho da água do mar cegava-me cada vez mais, e mais, e mais… indefinidamente até tocar na minha pura lucidez, a qual não me deixava partir para junto do sol, para junto da água, para bem junto do meu mundo das sensações.
Virei-me, coloquei os pés na estrada e fui apreciando os socalcos da calçada quente.
Outro Homem que fui!
Havia percorrido 140 km...O meu destino estava à vista, durante a infinita avenida as árvores rodeavam-me, assim como o aroma do mar, a areia e o sol escaldante de pleno Verão. Vários pensamentos compenetravam-me, desde a família, aos amores, passando pelos amigos e até por todos aqueles que sem nunca os ter visto aparecem no quotidiano, são chamados ou designados de Sociedade, pois formam um todo, fora de cada pessoa!
Nesse dia havia feira, os murmúrios de que o circo tinha chegado à vila percorriam até as bocas mais caladas, fazendo com que os comerciantes trocassem pequenas piadas e dessa forma se inter-relacionassem para passarem um mais longo dia, onde cada banca clama ao seu bom produto, sendo estes produtos melhores que os do vizinho feirante...
Chegado à Tocha, vila onde a minha recepção foi sempre bem aceite, apareci na casa onde uns amigos dos meus pais esperavam-nos para um bom almoço, já que nesta casa todo o produto e alimento eram caseiros, as batatas, as couves, os recos, as cabras, e admirem-se a boa vontade. Cumprimentadas todas as pessoas, os mais novos agrupavam-se de forma eufórica indo mostrar os novos animais da quinta, o cavalo, os porcos novos, os coelhos acabadinhos de nascer e as novidades que se haviam entretanto passado tanto na praia como na vila. O almoço está pronto! - Aclamou D. Maria.
Pela tarde soalheira, o sol beijava a areia com a força máxima...Sensação que as ondas procuravam cada vez que se enrolavam nesse conjunto de inúmeras partículas arenosas. Os veraneantes entusiastas com a chegada do “ Pouca Sorte”, barco da Arte Xávega, aproximavam-se das longas redes que demorariam cerca de 3 horas a puxar manualmente, que finda a sua árdua busca trariam o mais belo peixe do profundo Oceano, leiloado ali mesmo, em plena areia, em pleno sol, em local vedado por uma corda ainda suada do esforço de tantas mãos, cujas gotas ao caírem na areia quente formavam uma textura.
Os pescadores suavam e suavam, suas camisas absorviam o puro dos suores, um suor vindo com a brisa marítima, que lentamente formava gotas após gotas nas suas cabeças expostas àquele sol escaldante de Verão.
Ao final da tarde era vez de começar a recolher todo o material e organizá-lo para que estivesse tudo pronto na manhã seguinte.
As pessoas abandonavam a praia, recolhiam-se para as suas casas ainda com um ar seco e quente. Mal arranjavam um sítio para se sentarem, tentavam limpar os pés cheios das mais minúsculas partículas de areia que tanto custavam a sair, giravam com a toalha de um lado para o outro e assim repetitivamente, aprochegavam os chinelos primeiro para um pé depois para o outro, era notório aquele cansaço de um dia refastelado ao sol.
Eu próprio cheguei ao final do dia sem saber como estava, sem saber para onde ia, sem saber bem o que se tinha passado comigo! – O sol começava a pôr-se, a sua luz ofuscava o céu, o brilho da água do mar cegava-me cada vez mais, e mais, e mais… indefinidamente até tocar na minha pura lucidez, a qual não me deixava partir para junto do sol, para junto da água, para bem junto do meu mundo das sensações.
Virei-me, coloquei os pés na estrada e fui apreciando os socalcos da calçada quente.
Outro Homem que fui!
sábado, 11 de novembro de 2006
Porquê um blog?
Ei-lo que aparece:
Há algum tempo tardava o lançamento deste meu Blog. Intencionalmente criado, para de uma forma, exposta, retratar a maior parte de situações que nos vão envolvendo, a mim directamente, a vós como assistentes, espero que participativos também, e assim irmo-nos aconchegando à partilha de vivências, actos, imagens, ideias e debates.
Subscrever:
Mensagens (Atom)