terça-feira, 29 de maio de 2007

Trotskismo, a propósito!


A teoria da “Revolução Permanente” baseia-se na ideia do “desenvolvimento desigual combinado”. Segundo esta tese, quanto mais atrasado é um país, mais evoluída é a parte mais desenvolvida da sua economia! O raciocínio, aparentemente contra-intuitivo, é de que, se um país se começa a industrializar tarde, irá adoptar as industrias mais modernas existentes na altura, logo, a pouca indústria que terá será altamente desenvolvida. Por exemplo, um país que só recentemente tenha começado a ter ligações telefónicas, terá, em quantidade, poucos telefones, mas esses poucos telefones, em média, serão mais sofisticados que os telefones de um pais que já tenha um sistema telefónico há várias décadas, já que as poucas pessoas que compram telefones irão comprar os telefones que se produzem hoje em dia.
Tal levaria a que, em países semifeudais, a burguesia capitalista, mesmo sem ainda ter derrubado a nobreza, já está em conflito com o proletariado, porque, como a pouca indústria existente é das mais modernas, os conflitos entre patrões e trabalhadores tendem a assumir os mesmos contornos que nos países desenvolvidos (lembremo-nos que Trotsky elaborou esta teoria no principio do século XX, uma época em que, nos países industrializados, a luta entre “proletários” e “burgueses” estava na ordem do dia). Assim, a burguesia local estaria entre dois fogos: por um lado, continua submetida ao Antigo Regime, o que a poderia levar a posições revolucionárias (como a burguesia europeia ocidental dos séculos XVIII e XIX); mas, por outro, já sofre a pressão dos trabalhadores, o que a leva a posições conservadoras (como a burguesia europeia ocidental do século XX). Segundo Trotsky, quanto mais tarde um país conhecesse o seu arranque industrial, mais conservadora seria a sua burguesia local, já que o medo ao proletariado seria mais forte que a sua oposição à nobreza. Além disso, ao contrário da Inglaterra de 1688, da América de 1776 ou da França de 1789, já não existiria uma vasta classe de pequenos e médios artesãos e comerciantes que pudesse fornecer a “mão-de-obra” para uma revolução burguesa (devido à modernização do sector industrial, o único “povo” disponível – nas cidades – são mesmo os operários).
É aqui que entra em cena a “Revolução Permanente”: segundo Trotsky, a burguesia já não é capaz de fazer a sua própria “revolução burguesa”, tendo que ser o proletariado a encarregar-se disso. Mas, sendo o proletariado a fazer a “revolução burguesa”, este não se contentará com o programa “liberal-burguês” (ia abolir a monarquia absoluta, liquidar o feudalismo, etc.), e irá logo começar a pôr em prática o “programa socialista” – assim, a revolução é “permanente”, já que, pela sua própria dinâmica, tenderá a evoluir para posições cada vez mais radicais (no caso russo, a revolução começou por ser democrática e republicana e, em poucos meses, tornou-se socialista – aliás, o PREC português teve uma dinâmica semelhança.

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