Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio!
Asas abertas!
O que trago
Em mim?
Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
1 comentário:
"há dias em que acordamos e percebemos tudo/o recorte das cidades no horizonte/a distância que há nos caminhos que rasgam os corações/como se fossem cearas de trigo/o nome de certas coisas que só sentimos num abraço
(...)
é então que descobrimos/num desses rostos com que cruzamos o olhar/que a vida podia ser outra/e que seríamos felizes num outro sorriso/se lhe entregássemos inteiros nossos lábios
há dias assim/em que acordamos e percebemos tudo/como se tudo nos estivesse imensamente próximo/como se cada dia nascesse e morresse num abraço/como se a vida coubesse num poema"
in "Quando o Verão Acabar", José Rui Teixeira
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