Palheiros da Tocha, Junho de 2004
Havia percorrido 140 km...O meu destino estava à vista, durante a infinita avenida as árvores rodeavam-me, assim como o aroma do mar, a areia e o sol escaldante de pleno Verão. Vários pensamentos compenetravam-me, desde a família, aos amores, passando pelos amigos e até por todos aqueles que sem nunca os ter visto aparecem no quotidiano, são chamados ou designados de Sociedade, pois formam um todo, fora de cada pessoa!
Nesse dia havia feira, os murmúrios de que o circo tinha chegado à vila percorriam até as bocas mais caladas, fazendo com que os comerciantes trocassem pequenas piadas e dessa forma se inter-relacionassem para passarem um mais longo dia, onde cada banca clama ao seu bom produto, sendo estes produtos melhores que os do vizinho feirante...
Chegado à Tocha, vila onde a minha recepção foi sempre bem aceite, apareci na casa onde uns amigos dos meus pais esperavam-nos para um bom almoço, já que nesta casa todo o produto e alimento eram caseiros, as batatas, as couves, os recos, as cabras, e admirem-se a boa vontade. Cumprimentadas todas as pessoas, os mais novos agrupavam-se de forma eufórica indo mostrar os novos animais da quinta, o cavalo, os porcos novos, os coelhos acabadinhos de nascer e as novidades que se haviam entretanto passado tanto na praia como na vila. O almoço está pronto! - Aclamou D. Maria.
Pela tarde soalheira, o sol beijava a areia com a força máxima...Sensação que as ondas procuravam cada vez que se enrolavam nesse conjunto de inúmeras partículas arenosas. Os veraneantes entusiastas com a chegada do “ Pouca Sorte”, barco da Arte Xávega, aproximavam-se das longas redes que demorariam cerca de 3 horas a puxar manualmente, que finda a sua árdua busca trariam o mais belo peixe do profundo Oceano, leiloado ali mesmo, em plena areia, em pleno sol, em local vedado por uma corda ainda suada do esforço de tantas mãos, cujas gotas ao caírem na areia quente formavam uma textura.
Os pescadores suavam e suavam, suas camisas absorviam o puro dos suores, um suor vindo com a brisa marítima, que lentamente formava gotas após gotas nas suas cabeças expostas àquele sol escaldante de Verão.
Ao final da tarde era vez de começar a recolher todo o material e organizá-lo para que estivesse tudo pronto na manhã seguinte.
As pessoas abandonavam a praia, recolhiam-se para as suas casas ainda com um ar seco e quente. Mal arranjavam um sítio para se sentarem, tentavam limpar os pés cheios das mais minúsculas partículas de areia que tanto custavam a sair, giravam com a toalha de um lado para o outro e assim repetitivamente, aprochegavam os chinelos primeiro para um pé depois para o outro, era notório aquele cansaço de um dia refastelado ao sol.
Eu próprio cheguei ao final do dia sem saber como estava, sem saber para onde ia, sem saber bem o que se tinha passado comigo! – O sol começava a pôr-se, a sua luz ofuscava o céu, o brilho da água do mar cegava-me cada vez mais, e mais, e mais… indefinidamente até tocar na minha pura lucidez, a qual não me deixava partir para junto do sol, para junto da água, para bem junto do meu mundo das sensações.
Virei-me, coloquei os pés na estrada e fui apreciando os socalcos da calçada quente.
Outro Homem que fui!